sábado, 26 de fevereiro de 2011

O Expresso não se dobra, o destino é que se adapta.

Dobrei-o para lhe dar o destino dos jornais já lidos. Na leitura do caderno principal do Expresso 2000, uma tarefa realizada com curiosidade pelas novas formas anunciadas, observa-se um refrescamento agradável, temos mais imagens que ilustram os temas, um assunto por página quando é exigível, publicidade à direita, e com as caras do costume.

Uma nova consciência jornalística? É cedo para foguetes, o Ricardo Costa não vai seguramente por aí, foi quase empurrado para as águas do Wikileaks, esclarece no editorial que “cumprirá as regras dos outros jornais”. E que se obriga a discutir os temas com as autoridades, quando necessário, afirma diligente e avisando como convêm.

Esta nova vida do Expresso nasce no momento cabalístico, virar o 2000 e vida nova, esta modernidade supersticiosa de gente modernaça arrepia como o ranger de portas em filme de terror, quem não quer não coma. O expresso passa e o seu estilo é norma para o resto do mundo jornalístico nacional, o mais que podem fazer é por os olhos no Rei.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Carta aberta sobre os meus velhos camaradas de partido.

Nestes últimos dias pelas páginas dos jornais dois deles trocaram desta forma as suas divergentes atitudes para com o estado a que isto chegou, ou seja, cada qual agarrou o tema pela vertente que melhor lhe poderia servir.

Natural que assim seja, de um lado o presidente do partido Almeida Santos homem de fino trato e de elevado gabarito intelectual, político ao melhor estilo de Richelieu, jurista de fino estilo e orador de irrepreensível prosa, insubmergível nas vicissitudes desta vida muito complicada de negócios, mentiras e traições que a altas esferas praticam com elevada frequência e sem nojo das consequências em que são mestres no aliviar de culpas.

Henrique Neto do outro lado da barricada, pois o tema virou em quase estado de guerra, um militante socialista fora do aparelho partidário, proprietário a justo título da mais relevante posição de anti-sistema, homem de fábrica, conhecedor de todos os degraus desta vida difícil para quem nasce pobre, duro no trato, sem rodriguinhos na forma, objectivo como aqueles que não tem tempo a perder, as formas só magoam quem ai se detiver, são detalhes com pouca valia na substância, tem por fundo a dor do engano, a mágoa do logro, palavra de rei, de honra, como político fora do seu tempo, onde as conveniências são regra.

Gosto especialmente de ambos, mais por sempre admirar e ignorar os que os faz agir e porque teimam nos seus papéis. São as mais das vezes homens úteis, seguramente conscientes da legitimidade dos seus actos e seguros da sua imprescindível valia nesta vida política que animam e de que se alimentam, sabem, estou disso convicto, que são usados, dando conforto aos pólos opostos desta louca barganha, viciada e triste.

Dos velhos camaradas que já partiram recordo o exemplo, para mim maior, do Tito de Morais, militámos os dois numa humilde secção de bairro desta nossa capital, e como era reconfortante para a minha irrequieta juventude a sua ternura num deserto de anuências.

Um momento de camaradagem, que nunca esquecerei, prenhe de algo indescritível, quando o dirigiam à mesa de voto, numas vulgares eleições internas, instalada num Hotel perto da avenida de Roma, numa maca, pois a sua longa existência física a isso o obrigava, me estendeu a sua mão amiga e comida da fraqueza dos anos, me segredou “Ramalho quem são os nossos?”, não recordo o que lhe disse, hoje sei que ele será eternamente dos meus.

Espero continuar a considera-los como também dos meus.

Lisboa, Fevereiro de 2011

Armando Ramalho